Em Dia Mundial dos Pobres, somos convidados a uma reflexão
sobre a pobreza, que vai muito para além daquilo a que, comummente, se apelida
de pobreza. Imediatamente se identificam como pobres os que não têm que comer,
ou condições para viver com um mínimo de dignidade económica. Verdade que o
são, mas pobre é todo aquele que a quem faltam condições para viver como
pessoa, e, muitas vezes, o que nos faz verdadeiramente pobres não é a falta de
dinheiro ou de comida, mas
a de tudo
aquilo que os possa fazer sentir não amados: a solidão, a ausência dos filhos,
a incapacidade para
o relacionamento com os demais, seja por não se ter as pessoas próximas, seja pela maneira de
ser e de viver. Neste sentido, é preciso voltarmos o olhar para nós próprios a
tentar descortinar se não haverá em nós, também, uma certa dimensão de pobreza,
mesmo que economicamente possamos ser muito abastados.
Somos muito sensíveis na busca de soluções imediatas para
sanar as dificuldades momentâneas de alguém dando e distribuído "bens
essenciais", sobretudo porque isso acaba por nos deixar uma certa
consolação de termos ajudado, descomprometendo-nos do muito mais que poderíamos
fazer, e que precisa ser feito.
A vergonha, o medo, ou a falta de alguém confiável, leva
aquele que vive em necessidade, seja ela de que tipo for, a não se aproximar
facilmente para um "pedir" ajuda. Atitude perfeitamente compreensível
e que é preciso entender. Importa, acima de tudo, ir ao encontro, fazermo-nos
próximos de quem precise de nós, não por sermos mais ou melhores, porque
ninguém é melhor que ninguém, para partilharmos o que somos, talvez mais do que
o que temos, e sermos, assim,
Aproximarmo-nos de um "pobre" só se torna possível
e fecundo se nos fizermos pobres com ele. Aqui entra a misericórdia:
envolvermos o nosso coração na "miséria de coração" do outro. Não
esqueçamos, no entanto, e nunca, que o nosso coração é tão miserável como o do
outro. Entrando na pobreza do outro, perceberemos o quão pobres somos. Só Deus
nos faz ricos.