sábado, 17 de fevereiro de 2024

Deserto que se faz

O deserto, sendo a mais agreste natureza, é fascinante no silêncio, impressionante para os olhos e poderoso pelos sentimentos que provoca a quem nele se encontra. 

O deserto da Judeia, onde Jesus passou quarenta dias antes do início da sua vida pública, é ainda mais marcante por ser todo ele composto de montanhas a perder de vista, diferentemente do deserto que nos salta à mente, de longas planícies recortadas pelas dunas.

Mas, deserto é deserto! A marca que deixa imprime-se na alma e conduz a experiências próximas de eternidade. A aspereza do deserto e a distância a que o temos, dificultam a experiência nele. Acontece que, graças a Deus, o deserto também pode construir-se, e é necessário que assim seja, por cada um, em si mesmo. Pobres de nós quando não soubermos semear deserto na agitação que nos percorre a vida e em alta velocidade a atira para experiências que não temos tempo de saborear, por não termos o vagar e o tempo, o olhar desperto e o ouvido aberto, para saborear o doce encanto da água que corre no rio e que, deixando nós, lava a alma arrefecida por pensamentos negativos e agressivos; que lima as arestas da pedra em que o ódio transformou o coração. Perdemos a harmonia dos ritmos e sons  com que, em cada momento, a natureza busca moldar-nos. Fechamos os ouvidos com ritmos e sons injetados por pequenos instrumentos eletrónicos. 

Com apressados passos moldamos o corpo e criamos nele o desejo forte de viver muito tempo, esse tempo que não temos tempo de viver, e bem, esse bem que não alcançamos porque ele nasce e cresce a partir de dentro e é fortalecido a partir de fora, na relação confiante e necessária com os outros.

Necessário deserto aquele que me ensina e permite encontrar-me comigo, fazendo-me sentir parte do todo que é a Obra da Criação, mas também alimentando-me a certeza de que sou, somos, muito mais que essa obra criada, por sermos imagem e semelhança do Criador. Se o pecado nos desfeou e fez perder a beleza dessa imagem, a salvação operada por Cristo, possibilitou-nos restaurá-la. Só deixando-nos ser participantes da beleza de Deus, descobriremos o sentido do que somos. Só o deserto, construído, sentido e vivido, permitirá essa participação.

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Fugir das sombras?

 

Rufam a toda a brida os  tambores do escândalo. A Igreja tem nódoas, pecados, muitos pecados! Exatamente aqueles que são os meus, os teus e os de toda a multidão daqueles que são a Igreja. Puxam todas as pontas soltas  das quais possa estar um cheiro a notícia escandalosa, e ninguém escapa à acusação. Faz-se recair sobre todos a culpa de alguns, e não é apenas sobre os sacerdotes, mas, por osmose, também sobre aqueles que lhes são mais próximos, basta, simplesmente, ir à missa ainda que a ela presida o mais santo dos santos.

Não querem estas palavras deixar de condenar o pecado, o que está mal e que, como é natural, se torna motivo de escândalo. O que é mau é igualmente mau, seja perpetrado por quem for. Acontece, porém, que se for no seio da Igreja isso assume proporções de generalidade e abafa todo o bem que se faz.

As palavras aqui registadas não buscam chegar mais longe que ao coração daqueles que, sendo Igreja, se embrenham na luta permanente e constante por acolher e viver o dom e a graça da vida que Deus oferece e que acontece em Igreja, por mais pecadora que seja. A nossa fé, em muitas situações sobejamente frágil, corre o risco de tombar perante o agitar de algumas palavras, quanto mais diante do escândalo público!

E agora? Agora, não vamos deixar-nos chocalhar por todos os lados, tremendo diante da certeza de que os ataques são cerrados. Veremos, já vimos, muitos partir e deixar atrás de si os barulhos das palavras de revolta contra tudo e contra todos. Deixemo-los partir. Quando virmos que as nossas palavras, que devem ser sempre mais acolhedoras que agitadoras, não produzirão efeito, fique-nos o silêncio e a entrega orante nas mãos de Deus. Lamentemos e reparemos o mal, mas empenhemo-nos em fazer bem, sem fugir diante da primeira oportunidade que surgir para o fazer com estrondo. Se uma árvore podre cai, não temos que fugir da floresta, porque muitas outras permanecem de pé e dão flor, fruto e sombra. Fraco não é quem permanece na luta, mas aquele que debanda diante o primeiro som da sirene que anuncia o ataque inimigo, ou aquele que abandona as férias só porque caíram uns pingos de chuva.


quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Ricos e Pobres

 

Em Dia Mundial dos Pobres, somos convidados a uma reflexão sobre a pobreza, que vai muito para além daquilo a que, comummente, se apelida de pobreza. Imediatamente se identificam como pobres os que não têm que comer, ou condições para viver com um mínimo de dignidade económica. Verdade que o são, mas pobre é todo aquele que a quem faltam condições para viver como pessoa, e, muitas vezes, o que nos faz verdadeiramente pobres não é a falta de dinheiro ou de comida, mas   a de tudo aquilo que os possa fazer sentir não amados: a solidão, a ausência dos filhos, a incapacidade para  o relacionamento com os demais, seja por não se ter as pessoas próximas, seja pela maneira de ser e de viver. Neste sentido, é preciso voltarmos o olhar para nós próprios a tentar descortinar se não haverá em nós, também, uma certa dimensão de pobreza, mesmo que economicamente possamos ser muito abastados.

Somos muito sensíveis na busca de soluções imediatas para sanar as dificuldades momentâneas de alguém dando e distribuído "bens essenciais", sobretudo porque isso acaba por nos deixar uma certa consolação de termos ajudado, descomprometendo-nos do muito mais que poderíamos fazer, e que  precisa ser feito.

A vergonha, o medo, ou a falta de alguém confiável, leva aquele que vive em necessidade, seja ela de que tipo for, a não se aproximar facilmente para um "pedir" ajuda. Atitude perfeitamente compreensível e que é preciso entender. Importa, acima de tudo, ir ao encontro, fazermo-nos próximos de quem precise de nós, não por sermos mais ou melhores, porque ninguém é melhor que ninguém, para partilharmos o que somos, talvez mais do que o que temos, e sermos, assim,

Aproximarmo-nos de um "pobre" só se torna possível e fecundo se nos fizermos pobres com ele. Aqui entra a misericórdia: envolvermos o nosso coração na "miséria de coração" do outro. Não esqueçamos, no entanto, e nunca, que o nosso coração é tão miserável como o do outro. Entrando na pobreza do outro, perceberemos o quão pobres somos. Só Deus nos faz ricos.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Ser Família

Este é dia (26-12-2021) dedicado à celebração da Sagrada Família de Nazaré.

Sendo o Natal o mistério da Encarnação do Filho de Deus, é mistério que não pode dizer-se por palavras, apenas ser contemplado e amado. Este mistério divino acontece no seio de uma Mulher, no seio de uma Família, naquele silêncio de tudo o que não

pode dizer-se, apenas contemplar-se e amar-se. Olhamos a família de Nazaré e facilmente nos fixamos na sua beleza artística, passageira e fugaz, dependente da sensibilidade de cada um, diferente para todos.

Não se vê de olhos abertos, contempla-se nos olhos fechados, no olhar da mente em estreita comunhão com o coração. Aí,  aí, encontra-se a real beleza de uma comunhão familiar que é, por si e na envolvência de Deus, mistério que, como o de Deus, não pode também falar-se por palavras, só no íntimo de nós mesmos, na luz que as fragilidades humanas permitem que o coração e o amor possam ver.

José, apanhado desprevenido num mistério de salvação que só a revelação divina, através do seu Anjo, pôde fazê-lo entender, ou, mais que entender, fazê-lo amar com uma intensidade de que o coração só por graça é capaz.

Maria, a jovem mulher cheia de Graça, a viver em divina comunhão, sendo a mais humilde das criaturas, superada só pela humildade de Deus aos fazer-se Homem, estremece diante do Anjo que Lhe faz anúncio de que será a Mãe do Filho de Deus. Não teme porque Deus a fortalece e porque se sabe plenamente nas mãos de Deus, embora sentindo-se a mais indigna, assume-se como escrava ao serviço dos planos do Senhor. Não, não pode passar-nos pela mente o sentimento de amor que acontece nesta mulher para com José e, sobretudo para com seu Filho, o próprio Deus.

Jesus, o Tudo que em plena humildade, só contemplável à luz da Misericórdia, assume o "nada" da nossa natureza e se dispõe a ser acolhido, amado e cuidado por José e Maria. Um Deus que aceita o "risco" de viver a nossa humanidade. Mas sim, assume esse "risco" no seio daquela que é uma família de amor elevado à intensidade de ser mistério que só na fé pode entender-se.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Sem Vida

No que diz respeito à catequese das crianças e adolescentes, começam as aflições que a todos tocam. Para os "responsáveis" pela catequese, a começar pelo pároco, levantam-se as questões costumeiras: como fazer? Onde "encontrar" catequistas?... Já da parte de dos catequizandos se levanta o problema do "já aí está a  escola e a catequese outra vez"... Por parte dos pais, particularmente os que têm filhos em idade de iniciar a caminhada catequética, importa  saber o  quando começa e o como inscrever os filhos?.

Tudo questões para as quais se encontrarão respostas e soluções, mais ou menos atravancadas, infelizmente, por as nossas comunidades não estarem preparadas, nem se sentindo necessitadas de catequese, porque, mais grave ainda, não se sente proximidade com Deus nem, ao menos, necessidade d'Ele.

Ao iniciar mais um ano de catequese, muitas  questões se levantam a quem tem o desejo e a responsabilidade de a fazer avançar. Antes de mais, perguntamo-nos do "a quem" catequizar? A resposta vai no sentido oposto àquilo que, habitualmente, se faz. Os adultos, esses que já têm "tudo", são aqueles que mais têm necessidade de catequização porque, na prática, uma enormíssima maioria não tem "nada". Se não são os pais a assumir a responsabilidade e o cuidado da educação dos filhos, diremos que é perder tempo e contraproducente a catequese às crianças. A elas dá-se um sopro daquilo que os pais negam, em teoria e em prática. O resultado? "Nenhum". Deixo a resposta entre aspas por não corresponder exatamente à verdade, pois a ação da graça divina não é vã, e, além disso,  pelo menos alguns dos catequistas acabam por fazer caminhada. 

Afirmar que o resultado é nenhum, vem-nos da análise que, com o olhar, fazemos das nossas comunidades, das nossas celebrações. Não se veem as crianças, os adolescentes ou os jovens crismados, a fazer parte da comunidade celebrativa. Só celebra quem vive. Quem não vive está morto. Não se veem os pais dos filhos que frequentam a catequese. Se não há vida nos pais, dificilmente a haverá nos filhos. Honra seja feita àqueles, muito poucos, que, fazendo parte destes grupos dos ausentes, estão presentes  e manifestam fé. 


sexta-feira, 23 de abril de 2021

Que Bom Pastor?

 

Celebramos o "Dia do Bom Pastor". Vivemos em tempo de sobrevalorização dos animais, a ponto de, num  dos países da América Latina, já se estar a fazer proposta de lei para considerar os animais como "pessoas não humanas". Elevá-los ao nível de pessoa é conceder-lhes direitos que se igualem aos humanos, se bem que não se lhes podem dar deveres, porque eles não são racionais, não tendo, por isso, capacidade para os entender e, como tal, para os cumprir.

Celebrar o Cristo Bom Pastor é imagem bela para que
tomemos consciência de que somos "rebanho" conduzido, guiado e amado, por Aquele que se se fez um e nós
, pondo-se ao nosso nível, para manifestar o infinito amor com que Deus ama, capacitando-nos, assim, para o entendimento desse amor, precisamente porque foi, é, em humanidade que Ele se manifesta, se dá a conhecer. O Senhor não enviou um Anjo, ou um outro ser espiritual, veio Ele mesmo, assumindo a natureza humana, para poder comunicar-Se a nós de modo que pudéssemos entender.

Bom Pastor que guia o seu rebanho, o seu Povo, por caminhos plenos de verdade e de vida, a pastagens que alimentam em eternidade, fazendo-se Ele mesmo alimento. É muito mais profunda, esta imagem do Bom Pastor, que aquilo que podemos alcançar. somos guiados, levados, alimentados, para viver eternamente, não conduzidos e alimentados para, no fim, ser mortos em proveito do pastor; o nosso Pastor adquiriu-nos, não a preço de ouro ou prata, mas a preço do seu sangue, deixando que a sua vida fosse um permanente "desfazer-se" a si mesmo, para "fazer" de nós filhos. Hoje, Ele continua a "derreter-se" em misericórdia e ternura, pegando-nos ao colo, cumulando-nos de Graça e suspirando que nos confiemos à vida que nos oferece. Aos mais frágeis olha-os e ama-os com um amor misericordioso que passa "para além daquilo que é o infinito".

Pastor bom, que se faz vida e alimento na liberdade que nos oferece e em que podemos recusá-Lo e ser tudo aquilo que Lhe seja contrário e ofensivo. Haverá comunhão de vida, em ato de entrega e aceitação, na relação humano-divina do Bom Pastor com o seu Rebanho, na medida, e tanto quanto, nós, as suas ovelhas nos deixarmos confiadamente conduzir e amar por Ele.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

vai-te daqui, Satanás

 



Satanás não é propriamente o mais simpático de se chamar a alguém, mas foi o que Jesus chamou a Pedro, quando reagiu como reagiu ao ouvir Jesus dizer que havia de morrer às mãos dos “grandes” de Jerusalém.

Satanás tão somente aquele que se opõe e comanda toda a oposição a Deus. Toda a sua vontade e todo o seu agir vão no sentido de impedir que se realize o projeto salvador de Deus. Porque contra Deus não pode nada, atua junto das criaturas livres, o ser humano, para nos levar a negar, a impedir e a recusar a salvação operada e oferecida por Deus. Deus salva, o diabo quer que não chegue a nós essa salvação. 

Embora não se dando conta, S. Pedro estava a deixar-se guiar por vontade diabólica procurando levar Jesus a não se entregar à morte, precisamente porque seria nessa entrega que aconteceria a salvação, como de facto sucedeu. S. pedro está a reagir com a melhor das intenções querendo evitar a morte de Jesus - “Deus Te livre de tal, Senhor, isso não há de acontecer” - Se tal não acontecesse, não aconteceria a Salvação, os planos de Deus seriam frustrados. Esse era, continua a ser, o plano de satanás. Porque estava a agir por meros intuitos humanos, recusando que a ação de Deus se operasse, estava a ser intermediário do mal, e Jesus identifica-o com o próprio mal.

É assim mesmo que ele atua: discretamente; fazendo passar por bom aquilo que é mau; atraindo para a ilusão de vida aquilo que a ela não conduz; criando indiferença em relação a Deus; destruindo as bases das relações de amor, como é o caso da família; sexualizando as relações entre pessoas; levando a transpor os valores da vida humana para os animais, desvalorizando-os nas pessoas; destruindo a vida pelo aborto e a eutanásia, fazendo passar por valores aquilo que é exatamente o seu contrário… Tenha-se em conta que, como norma, ele não atua diretamente, mas através das pessoas, e sempre que se faz a sua vontade ele ganha terreno e quem perde somos nós. Ele nada perde porque só há sentimento de algo que é bom, e ele é condenado e nada há nele que não seja mal.

Foi das suas mãos, do seu poder, do seu domínio, que Jesus nos libertou ao morrer na cruz. É dele que Deus quer libertar-nos. Está em nós a escolha.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Vamos Recomeçar

Depois e duma "eternidade" sem a celebração da missa com a presença física da comunidade, reabre-se-nos a ocasião de o voltarmos a fazer. A celebração da missa e básico, porque ela é a base, na vida da Igreja. A participação nunca é virtual, ainda que seja feita por meios virtuais, mas a celebração com a presença física da comunidade é essencial. Claro está que esta participação tem os seus limites, aqueles que são humanos: doença, idade avançada, distância...

É preciso que nos previnamos quanto à possibilidade de virmos a contrair e/ou contaminar alguém, com um vírus, que pode ser mortal. Mas também não ns podemos fechar no medo de morrer, precisamente por que esse medo pode conduzir à morte. Vamos participar, assumindo limites, tendo cuidados.    

A Conferência Episcopal deu algumas orientações que acolhemos e vamos procurar respeitar. Fazemo-lo seguindo as orientações que nos são dadas pelos nossos pastores. A eles devemos obediência. Pensemos, confiantes, que estas medidas são temporárias, e peçamos ao Senhor que a vida volte, ao menos, à "normalidade" que tinha antes desta situação de pandemia.

Doem algumas coisas. Entre elas o impedimento à participação, por exiguidade de espaço, de alguns que o faziam habitualmente; o aconselhar à não participação de alguns idosos e doentes, por serem de risco; a "obrigação" de comungar na mão. O ataque continua a ser feito, a banalização da eucaristia tem aí um forte impulso. Pedimos ao Senhor que esta pandemia termine e outras não venham, também por isto: para podermos recebê-Lo com outro sentido. 

Enquanto a situação de limitação se mantiver, publicaremos, quinzenalmente, o programa de celebrações am ambas as paróquias.



sexta-feira, 22 de maio de 2020

Novena ao Espírito Santo 2020

1º Dia - 22 de maio (AQUI)

2º Dia - 23 de maio (AQUI)

3º Dia - 24 de maio (AQUI)

4º Dia - 25 de maio (AQUI)

5ª Dia - 26 de Maio (AQUI)

6º Dia - 27 de Maio (AQUI)

7º Dia - 28 de maio (AQUI)

8º Dia - 29 de maio (AQUI)

9º Dia - 30 de maio (AQUI)

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Rezar o Terço, em Maio, com crianças e adolescentes

Para meditação dos mistérios,

clique Aqui

terça-feira, 21 de abril de 2020

Faleceu o Sr. Padre Manuel Gaspar

O cónego Manuel da Silva Gaspar, de 101 anos, faleceu esta manhã, de doença natural, na Casa Diocesana do Clero, em Fátima, onde residia. O funeral será no cemitério do Souto da Carpalhosa.

Filho de Manuel da Silva e de Maria de Jesus, nasceu no Souto da Carpalhosa, no lugar da Carpalhosa, concelho de Leiria, em 6 de outubro de 1918. Entrou para o Seminário de Leiria em 1932. Concluída a sua formação, foi ordenado padre em 12 de julho de 1942, no Santuário de Fátima, pelo bispo D. José Alves Correia da Silva. Era irmão mais velho do padre Virgílio da Silva, já falecido. No seu longo percurso de serviço à Igreja, foi prefeito (1942-1961) e professor (1942-1974) do Seminário Diocesano de Leiria, assistente diocesano dos Cruzados de Fátima (atualmente Movimento da Mensagem de Fátima) de 1949 a 1960 e do movimento Juventude Independente Católica Feminina (JICF). Nos serviços diocesanos, desempenhou os cargos de Secretário da Associação de Doutrina Cristã (antecessor do atual serviço de catequese), de 1953 a 1960, Diretor da Pastoral Vocacional (1962-1972) e do Secretariado de Liturgia e Arte sacra, mais tarde denominado Secretariado de Pastoral litúrgica e Música Sacra (de 1972 a 2003). Foi ainda Juiz Pró-Sinodal na cúria diocesana, membro do Conselho Presbiteral em vários mandatos e do Cabido da catedral, tendo sido nomeado cónego em 1978.

No serviço mais diretamente pastoral, foi pároco dos Marrazes (1974-1978) e de Leiria (1978-1998), tendo sido também vigário da Vara de Leiria, desde 1976, durante pelo menos três mandatos. Em 1998, por motivos de saúde, deixou o serviço pastoral da paróquia de Leiria, indo residir para a Casa Diocesana do Clero e mantendo atividade no Secretariado de Pastoral Litúrgica.

Colaborou também na revisão linguística e literária da Bíblia Monumental Ilustrada, de livros litúrgicos e de várias publicações do Santuário de Fátima. O Cónego Manuel da Silva Gaspar era um homem muito acessível e amável, discreto, estudioso e de notável cultura, com uma paixão pela fotografia. No seu magistério de professor de várias disciplinas, era reconhecido como um bom pedagogo. Tinha um carinho especial pelos seus confrades, os sacerdotes, especialmente pelos mais novos. Acolheu vários em estágio pastoral e como colaboradores, dando-lhes espaço e apoiando-os no seu modo de ser e nas iniciativas. Foi um sacerdote que cultivou com profundidade a espiritualidade, com especial interesse pela liturgia, sabendo discernir bem o espírito autêntico e as normas práticas. Neste sentido, cuidou da formação dos sacerdotes, dos ministros extraordinários da comunhão e da publicação de ensinamentos nos jornais diocesanos. Sabia atender bem as pessoas e servi-las como bom pastor. Foi um zeloso ministro de Cristo e servidor da Igreja.

Ao mesmo tempo que agradecemos a Deus o dom da vida e do ministério deste fiel e generosos sacerdote, manifestamos o reconhecimento à Casa Diocesana do Clero e às suas colaboradoras, pelo competente e carinhoso serviço com que dele cuidaram nesta última fase da sua vida. Apresentamos sentidos pêsames aos familiares e amigos e imploramos de Deus o dom de novas vocações sacerdotais para o serviço do Seu povo, conforme o exemplo deste sacerdote.

Leiria, 20 de abril de 2020.
Padre Jorge Guarda
Vigário Geral

sexta-feira, 27 de março de 2020

Aos paroquianos de Monte Real e Souto da Carpalhosa


Aos paroquianos de Monte Real e Souto da Carpalhosa

O tempo e a situação que vivemos são estranhos. Nunca, entre nós terá acontecido tal situação de, para nos protegermos uns aos outros, estarmos impedidos de exercer umas das caraterísticas fundamentais do ser humano: a sociabilização. O que acontece tem que ser feito á distância, usando outros meios, não o da proximidade física.

Graças a Deus, são muitos os meios de que dispomos para comunicarmos e estarmos, assim, minimamente presentes nas vidas dos que fazem parte da nossa vida.

Alguns pontos:
1.    Sigamos as orientações que nos são dadas, permanecendo em casa, tudo fazendo para que não seja posta em risco a nossa vida nem as dos outros. Tenhamos presente que se por irresponsabilidade contaminarmos alguém com um vírus que pode causar-lhe a morte é pecado, é grave, é atentar contra a vida.
2.    Habitualmente, fazemos um tempo de adoração do Santíssimo Sacramento, via Facebook CLIQUE AQUI das 15:00 às 16:00 (todos os dias); Missa às 19:00 (segunda a sábado); Missa às 11:30 (domingo). Tendo em conta as frágeis condições de captação de imagem e som, se for possível, ligue o computador ou o telemóvel à televisão, vê-se e ouve-se melhor;
3.    Chegou-nos a informação de que em alguns sítios a imagem peregrina de Nossa Senhora continua a andar de casa em casa. Isso não deve acontecer. Nem as imagens peregrinas, nem os coros da Sagrada Família devem, neste tempo, ser passadas de cada em casa. Devem parar onde se encontram, retomando-se, depois o normal circuito de casa em casa.
4.    Na celebração da Eucaristia rezamos por todas as intenções das comunidades. Se alguém quiser que seja anunciada alguma intenção particular, deve comunicá-la atempadamente.

Não deixamos de aproveitar este tempo, esta ocasião, para repensar a vida e os valores que vivemos, procurando recentrar o que somos e vivemos.

A bênção e a graça de Deus desçam, e permaneçam, sobre cada um.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Tempos Incertos

Mais um dia de necessária clausura nestes tempos incertos. Não temos que queremos, temos o que nos é possível. A nós cristãos, fica-nos a tristeza de não podermos celebrar comunitariamente a fé, mas leva-nos a uma reflexão e tomada de consciência dos momentos de graça divina do que tivemos até aqui e não aproveitámos. Queira Deus, fique em nós uma vontade grande e firme de nos tornarmos mais próximos de Deus, percebendo que não é em nossas mãos que está a salvação.

Hoje e amanhã era, permita-se-me que diga, é o tempo das “24 horas para o Senhor”. Não o faremos diante do santíssimo Sacramento, nas igrejas, para evitar aglomeração de pessoas, mas podemos fazê-lo no silêncio de nossas casas. Estamos a apontar para fazer adoração em privado, mas com transmissão via Facebook, na medida do que nos for possível, amanhã, dia 21, no período da manhã e também no da tarde. Permitindo, assim, que cada um, possa seguir nas suas casas e fazer silêncio orante.

Agora, que temos “todo o tempo do mundo” para rezar, e ainda sobra algum para “pasmar”, deitemos as mãos na massa e construamos um futuro diferente. Depois da tempestade vem a bonança. Não podemos, no entanto, descurar que outras tempestades surgirão.

sexta-feira, 13 de março de 2020

Covid-19 Comunicação


domingo, 1 de março de 2020

O MUNDO, O DEMÓNIO E A CARNE

Estão na memória de muitos de nós os chamados “inimigos da Alma”, seja dizer-se: os inimigos da Salvação. Mundo, demónio e carne. Reportando-nos ao que nos diz a Escritura sobre o tempo de Jesus no deserto, façamos uma breve aproximação entre Jesus e estes inimigos da alma que, nós tão tranquilamente descuramos.

1.  O mundo não é mais que a mundanidade, o viver distanciados de Deus, pondo no lugar que Lhe compete as realidades mundanas, coisas e pessoas, a que tanto valor damos. Para Deus adota-se o mundo. Jesus retira-se do mundo das coisas e das pessoas, para o encontro com Deus, em retiro, no deserto;

2. Demónio: a força do mal, o príncipe do mundo, como Jesus lhe chama, que tudo faz e se serve para enganar, seduzir, desviar e afastar de Deus as pessoas e a obra da Criação divina. Discreta ou descaradamente, nos envolve e atrai, com ilusões e enganos, fazendo parecer ser bom e meritório o que realmente é mau, condenável e à condenação conduz. É tão fácil ceder que nem é preciso dar passos, tranquilamente se desliza para dentro da “cantiga” com que nos encanta. Jesus afastou-se dele, recusando-o, não cedendo, vencendo-o com a Palavra de Deus, impondo-se a Si mesmo como Senhor da sua vontade e do seu querer fazer a vontade do pai e só a Ele adorar;

3. Carne: são os prazer que se buscam pelo prazer. Nosso corpo é bom, se de equilíbrio e a harmonia se compõe. A sociedade que somos tem como princípio e pano de fundo do existir o “carpe diem” (vive, goza, a vida). Talvez mais do que nunca, nos centramos em nós, na prossecução dos nossos prazeres e tudo orientamos para a realização e o consolo pessoal. O rumo que se vai percorrendo está a orientar-se no sentido de tudo ser lícito e bom, desde que concretize os nossos, por vezes loucos, desejos. Não comemos para viver, mas por enfartar o prazer; não celebramos dentro da alegria, mas buscamos alegra-nos, no exagero do álcool e das drogas, para pensarmos que somos felizes. Jesus jejuou, consagrando o esforço do controle cada um de nós é chamado a ter de si, vivendo como senhores de nós mesmos e não, deixando-nos ser controlados pelo parecer, pelo ter, pelo poder.