sábado, 30 de julho de 2016

Celeiros Novos sem Mofo.


Não me sai da memória um funeral a que, há já bons largos anos, presidi. Funeral de alguém que organizou uma festa com os amigos porque, graças à reforma antecipada, deixava o (bom) emprego na perspetiva
de "finalmente" viver a vida. Não foi antes, não foi depois, foi durante a festa que foi chamado(a) a prestar contas.
É tão verdade o Evangelho do dia de hoje, como o é toda a palavra que vem da boca de Deus... (...)"Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’ Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus". (XVIII Domingo Comum C).  

Perfeitos insensatos que somos a alargar celeiros que levem mais, a trabalhar mais horas para ter mais, a querer juntar este mundo todo para consolar o corpo, que, depois de morto, muitas vezes antes do tempo esperado e desejado, é deposto na escuridão da terra fria ou queimado. Um corpo que nada vale e de que imediatamente se livra quem fica por cá mais algum tempo. Tudo fica e se transforma, só nós "passamos", e os celeiros largos serão, brevemente, esvaziados e as riquezas acumuladas, rapidamente dispersas.

Mas há celeiros a destruir para reconstruir outros maiores, tão grandes que neles caiba a eternidade; mais seguros, tão seguros que nem o demónio na sua fúria destruirá nem sequer a traça conseguirá entrar para corroer ou estragar.

Recordo os tempos de outrora em que, no início de novas colheitas de milho e feijão, meu as arcas lá de casa eram limpas e dentro delas se queimava enxofre a que, acredito, não havia bicharada que resistisse, tal o fedor que dentro delas era abafado.

Quantas arcas, gavetas, cofres... ocupam o espaço, talvez todo o espeço, do celeiro que é o nosso coração, em mofo e cheiro de tristeza, dor e morte, que se acumulam, contaminam e intoxicam toda a vida, tantas vezes impedindo que sejamos sensíveis ao perfume o bom odor  do perdão de Deus, que tudo transforma, e que é fruto da tomada de consciência do pecado, que leva ao arrependimento purificador e a uma mudança de vida com a qual se renovam celeiros que se enchem de humildade, mansidão, paciência, sabedoria (discernimento do que é bem ou mal)..., dando sentido à vida e construindo eternidade de plena felicidade.

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